quarta-feira, 17 de julho de 2013

Entrevista - Além da Poupança






Nobres combatentes, súditos, membros da corte e musas do harém de El Rei!
É com muito pesar que não tenho lhes dado a devida atenção! Assuntos urgentes clamam pela mão de EL Rei. No facebook real, há bastante conteúdo e atualizações quase diárias. Clique aqui e curta!

Porém, para compensar minha falta, trago a vocês uma entrevista com ele, um blogueiro muito especial e querido por todos, conhecido por sua simplicidade aliada a uma grande facilidade para transmitir conhecimento. Seu único defeito: ser botafoguense! Entrevisto um dos Titãs da Blogosfera, Além da Poupança, vem pra cá! Uou!!!

1) El Rei: Caro Além da Poupança, seu blog é relativamente novo - iniciou em setembro de 2011 - e rapidamente tornou-se um sucesso na comunidade de finanças, sendo citado em diversos fóruns, fazendo a Planilha do ADP ser uma referência para o controle da rentabilidade pelo sistema de cotas. Ao criar o blog, você esperava toda essa repercussão?

A.D.P: Antes de tudo, gostaria de agradecer pela oportunidade desta entrevista. Apesar de sua figura controversa, Rei Troll, muitos concordam que suas ideias são bastante úteis quando não está
trollando, mesmo você considerando sua trollagem como uma função social.

Olha, ainda não considero meu blog um sucesso. Há blogs mais novos que o meu e que possuem audiência maior. Mesmo assim, não pensava que meu blog teria a quantidade de acessos de hoje. Minha maior motivação em sua criação foi devido ao fato de eu ser um cara pragmático. Gosto de ver as coisas pelo lado mais prático e simples possível. Havia alguns blogs que utilizavam linguagens difíceis, abordando teorias complicadíssimas e mostrando fórmulas complexas, que na minha opinião não ajudavam com a educação financeira. Pelo contrário. Alguém que caísse de paraquedas em um desses blogs teria maior repulsa pelo investimento em ações. Na época que criei o blog eu já possuía conhecimento suficiente para ocasionalmente fazer algumas postagens. Mas eu queria fazer de forma simples e com linguagem acessível. Acho que isso ajudou a aumentar a audiência do blog. Outra motivação na criação do blog era buscar contato com outros investidores em ações, coisa que no meu dia a dia não tenho. As planilhas ajudaram também. Tenho facilidade e paciência para fazer fórmulas no Excel. Acredito que as planilhas ajudam o pequeno investidor a ter uma ideia de sua performance na bolsa.

2) El Rei: Você tem planos para o blog? Pensa em profissionalizá-lo e sair do anonimato? Além de você, quantas pessoas sabem da existência do blog?

A.D.P: Por enquanto quero manter o blog da forma atual. Não descarto a hipótese de profissionalizá-lo ou de sair do anonimato, mas confesso que hoje não me sentiria confortável com isso. A intenção é apenas fazer postagens e trocar ideias com as pessoas que o acompanham. Eu precisaria ter certeza de que terei tempo e disposição para o blog caso eu decida ir além disso. Ainda tenho que me preocupar com a faculdade e estou mirando um concurso público. Ainda não sinto que cheguei no auge de minha carreira profissional. Por isso o blog seria mais um hobby do que trabalho. Uma coisa que tenho vontade de fazer é um livro gratuito ou de preço simbólico, mas isso seria algo para daqui a 15 ou 20 anos, pois ainda to muito novinho na renda variável.

Além de mim, somente minha esposa e mais outra pessoa sabem do blog. Sei que há a possibilidade de alguém descobrir quem sou. Caso isso aconteça, pretendo continuar com o blog, mas a divulgação dos detalhes de meus investimentos sofrerão algumas modificações.

3) El Rei: Devido às suas opiniões ponderadas sobre vários assuntos e grande conhecimento de finanças, sempre imaginei que você fosse um senhor de idade. Surpreendi-me quando você revelou ser jovem e casado. Qual sua opinião sobre o impacto do casamento nas finanças e na busca pela IF? Você acha que uma companheira pode ajudar nessa jornada ou sempre atrapalha? Conte-nos sobre sua experiência pessoal.

A.D.P: Minha situação atual é de um cara na idade de cerca de 25 anos, casado, que trabalha e faz faculdade. Essa questão sobre casamento e finanças é muito polêmica para algumas pessoas. Devido ao comportamento de algumas mulheres (me refiro àquelas que gastam bastante dinheiro com cabelo, roupas, sapato e outras coisas), muitos homens já condenam todo tipo de mulher, afirmando que é impossível alguém casado atingir a tão sonhada independência financeira. Hoje estou casado e visualizo a minha independência. Meus aportes não são grandes, mas considero que também não sou velho e ainda há muitas possibilidades de aumentar este aporte. Com meu salário eu seguro as pontas de todos os gastos de casa, sobrando um pouco para investimentos. Quem acompanha meu blog sabe que comecei em janeiro de 2011 com cerca de 12.770 reais. Hoje tenho cerca de 80 mil. Se tudo der certo, daqui a uns 4 anos estarei aportando muito mais do que hoje.

Eu já estive dos dois lados, o de solteiro e o de casado, então tenho propriedade para falar. Não interessa se você é casado ou se é solteiro. Um casal poupador vale muito mais do que um solteiro gastador. Isso me lembra na época que eu era soldado do exército. Lá existia a carreira de tenente temporário. O militar entrava com cerca de 19 anos e já ganhava muito bem. Sabe o que muitos deles faziam? Compravam carros caríssimos, uma arma e só viviam na balada gastando dinheiro com mulheres interesseiras. Eles sabiam que esta situação era temporária, mas não havia qualquer preocupação com o futuro. Havia um sargento gastador que chegou ao ponto de simular um roubo do próprio carro na tentativa de receber um seguro. Foi pego e conseguiu se safar disso na medida do possível. Pediu transferência e mudou até de nome de guerra. Ser solteiro não é garantia de nada. O que importa é o comprometimento. Há mulheres dispostas a construir um patrimônio com o marido. O importante é o cara saber escolher a esposa, ou vice-versa.Pelo menos na época em que namorava, eu deixava claro que eu era econômico. Fui fazendo a cabeça da minha esposa e hoje ela me apoia. Mas se o cara não sente confiança de que é possível atingir seus objetivos mesmo sendo casado, então só lamento. Lembro-me também de um amigo que era solteiro convicto. Estimulava o grupo de amigos a se manterem solteiros, pois nenhuma mulher prestava, segundo ele. Sempre citava um tio dele que tinha cerca de 60 anos, que costumava viajar e que era solteiro, mas muito feliz. Só sei que este meu amigo certo dia conheceu uma mulher e seis meses depois já estavam casados. Hoje ele tem um filho. Pode chegar um momento na vida de um homem que ele conhece uma mulher e fica balançado se vai deixar ela apenas passar pela sua vida. Se casar fosse tão ruim, nenhum ex-marido se casaria de novo. Claro que um solteiro possui maior controle de suas finanças, mas casamento não descarta a possibilidade de atingir a independência financeira.

4) El Rei: Como e quando foi o seu primeiro contato com a ideia de investir seu dinheiro? Você se preparou antes ou começou por curiosidade e foi buscando informação depois?

A.D.P: Meu primeiro contato com investimentos aconteceu assim que eu comecei a trabalhar, mas meu interesse foi despertado quando eu era criança. Eu sempre fui uma criança poupadora. Deixava minhas moedinhas no meu guarda roupa e não comprava doces ou outras coisas que crianças gostam. Gostava de oportunidades de arranjar dinheiro. Por exemplo, quando comprava pão de manhã, meus pais separavam um dinheiro para a compra. Muitas vezes eu ia em uma padaria que ficava bem distante de casa só porque o pão era mais barato. A diferença, claro, era somada às moedinhas do meu armário. Isso eu falo quando eu tinha cerca de 7 anos de idade. Nessa época também ouvi dizer que existia uma coisa que você deixava seu dinheiro lá e no outro mês estava um pouquinho maior. Descobri que o nome dessa coisa era poupança. Quando criança fiquei maravilhado pois considerava que era como se alguém te desse dinheiro de graça só porque você deixou um pouco lá. Até então eu imaginei: e se eu tivesse tanto dinheiro, mas tanto dinheiro que seria o suficiente para eu viver sem trabalhar? Dai começou minha fascinação pelo assunto.

Outro ponto interessante foi a completa falta de educação financeira de meus pais. Lá em casa era normal o endividamento através de cartão de crédito e de empréstimos. Meu pai fazia empréstimos para quitar outros. Quando a situação começava a aliviar, meus pais realizavam alguma compra grande, o que fazia a situação voltar a ser péssima. Muitas dessas compras eram supérfluos ou coisas que poderiam ser compradas depois. Eu não entendia muito bem por que meus pais faziam isso, mas serviu como um excelente contra-exemplo.

Quando comecei a trabalhar, separava um dinheirinho todo mês para a poupança, em busca de meu sonho de criança. Até o dia em que um capitão do exército do quartel onde eu servia fez uma palestra para os sargentos e tenentes sobre investimento em ações. Eu estava lá também para prestar apoio no som ou no vídeo, caso alguma coisa desse problema. O capitão mostrou uma série de gráficos, falando com muita propriedade. Aquilo me fascinou. Percebi que no mercado de ações minha tão sonhada independência financeira poderia ser atingida de forma mais rápida do que a poupança. Vi que na mesa do capitão tinha um livro e só consegui anotar o nome do autor: Alexander Elder. Comprei o livro "Aprenda a operar no mercado de ações" e o devorei. Instalei alguns programas no meu computador para analisar os gráficos, fiz simulações e me sentia preparado para realizar meus trades. Infelizmente, estava contagiado pela incompetência inconsciente e, claro, não deu certo. Dei sorte de sair com um leve prejuízo. Consegui recuperar boa parte fazendo alguns trades com as ações do Bradesco. Deixei o dinheiro parado na corretora pois tinha acabado de passar para um concurso público e precisa me mudar. Ainda bem que isso aconteceu, pois ajudou a mudar completamente minha forma de investir. Aliás, é por causa dessa história que o nome do meu blog é Além da Poupança.

5) El Rei: Entre sites, livros e pessoas, quais foram as fontes que mais contribuíram para a formação da sua visão como investidor? Poderia citar alguns exemplos dessas fontes?

A.D.P: Irei responder esta pergunta continuando a história da pergunta passada. Logo quando empossei meu atual cargo, conheci um colega de trabalho que investia no mercado de ações. Ele me apresentou o blog que mudou completamente minha forma e investir. O nome do blog é "Leitão em Ação". O Leitão apresenta nas suas postagens uma forma extremamente simples de se investir e com linguagem bastante acessível. Meu blog é inspirado no blog dele. O blog do Leitão foi o despertar de minha atual forma de investir. Nele finalmente aprendi o significado da análise fundamentalista. O livro de Alexander Elder possui, se não me engano, uma referência sobre análise fundamentalista, mas na época eu passei batido pois não tinha entendido nada. Finalmente tinha encontrado uma forma de investir que estava de acordo com o meu perfil. Nada contra a análise técnica. Quando fiz meus trades de sucesso com as ações do Bradesco, estava fazendo com controle de risco e com pontos de saída, ao contrário dos meus outros trades errados. Mesmo assim, não me sentia confortável com a análise técnica.

Mas com a análise fundamentalista foi diferente. Simpatizei tanto com esta abordagem que devorei diversos livros sobre o assunto. Entre estes livros, os que mais fascinaram foram "O Jeito Peter Lynch de Investir", "O Investidor Inteligente", "Investindo em ações no longo prazo" e "Warren Buffett e a análise de balanços". Mesmo assim, cada livro que não citei contribuiu de alguma forma na minha visão como investidor. Outra fonte que me ajudou muito é a forma de investir conhecida como "Método INI". Na verdade, eu conheci este método antes da leitura dos livros sobre análise fundamentalista. Infelizmente, o Instituto Nacional de Investidores foi desfeito, mas é possível encontrar pela internet referências sobre o "Método INI". Basicamente, o sucesso deste método consiste em investir mensalmente numa gama diversificada de empresas boas e lucrativas a preços razoáveis. Na época, quando li sobre este método, realizei uma série de simulações de compras mensais em empresas lucrativas e percebi que este método faz sentido. Depois que conheci este método, entendi que o mercado de ações não é tão caótico assim, e que realmente as ações são pequenos pedaços de empresas, fato que muita gente sabe, mas ignora. Empresas boas lucram, crescem e dão retorno aos seus acionistas. Empresas ruins dão prejuízo e frustram seus acionistas. Esta teoria está completamente alinhada ao meu perfil. Eu só precisava obter informações para desenvolver uma metodologia com o objetivo de saber diferenciar empresa boas de ruins. É aí que os livros se encaixam.

6) El Rei: Qual o seu objetivo após atingir sua independência financeira? Pretende trabalhar numa atividade que gosta, usará os proventos da carteira de investimentos como complemento da renda familiar ou parará de trabalhar definitivamente?

A.D.P: A independência financeira que almejo não seria apenas para suprir meus gastos do dia a dia. Gostaria também que ela permita a realização de viagens a turismo com uma frequência razoável. Talvez utilizaria o dinheiro da minha aposentadoria para os gastos diários e o dinheiro da independência financeira para viagens, ou vice versa. Se eu mantiver meu ritmo atual, provavelmente não alcançarei este sonho. Preciso aumentar meus aportes. Já estou trabalhando nisso.

Mas como não se vive apenas de viagens, tenho outros planos. Gostaria de realizar serviços voluntários em alguma ONG ou organização filantrópica semelhante. Se eu tiver jeito para ensinar, gostaria de dar cursos ou palestras ajudando outras pessoas a controlar suas finanças, ou quem sabe ensinando um pouco sobre o renda variável para aqueles que se empolgarem.

Parar de trabalhar definitivamente? Só se eu quiser morrer rápido.

7) El Rei: Estamos passando por épocas de instabilidade em todos os mercados mundiais. Especificamente no Brasil, a pressão inflacionária começa a assustar, a insatisfação do povo com o mau uso da verba pública ganhou as ruas, fazendo com o que os políticos sejam pressionados a atender a antigas demandas da população. Muitas empresas sofrem com intervenção direta do governo na economia. Selic subindo. Qual a sua visão sobre o cenário político e econômico brasileiro? Para quem investe ou deseja investir, tanto em ações quanto em renda fixa, até que ponto você acha importante considerar as variáveis políticas e as notícias num planejamento de logo prazo?

A.D.P: Agora você pegou nos meus pontos fracos: macroeconomia e previsões. Tenho sim minhas suposições, mas convenhamos, qual seria a credibilidade que tenho ao expô-las? Vemos diversas vezes renomados economistas errarem feio em suas previsões. Qual seria o valor da minha? Sou um mero pequeno investidor que compra ações.

Tenho a seguinte filosofia de investimento: empresa boa é aquela que é boa faça chuva ou faça sol, nas crise e na bonança, com política da esquerda ou da direita, com Copa do Mundo ou sem Copa. Por isso procuro identificar empresas com negócios ou produtos que historicamente venderam bem. Procuro também empresas que demonstram ter uma administração competente, que sabem se virar nas adversidades. Quando analiso uma empresa, procuro ver os fatos, não as promessas. Se você observar bem, as maiores quedas da bolsa costumam ser de empresas que prometeram demais, mas fizeram de menos. Nestas empresas, os boatos conseguem sustentar por um tempo a cotação das ações, mas inevitavelmente o fato determinará se a cotação cairá ou subirá.

Não tenho informação nem formação técnica para prever o impacto das medidas da economia nas minhas empresas. Mas garanto que minhas empresas possuem pessoas bem pagas, bem formadas e bem informadas para saberem lidar com essas questões. Por isso, procuro deixar com as próprias empresas essas preocupações econômicas. É um método 100%? Claro que não. Na minha carteira sempre surgirá uma empresa que de alguma forma decepcionará. Nessas horas eu posso transferir os recursos empregados nesta empresa para outra, conforme determinado pelo meu controle de risco.

Pelo menos para mim, estar antenado a todas as mudanças e acontecimentos do mundo pode ser mais prejudicial do que benéfico. Primeiro porque as informações que chegam são rapidamente interpretadas pelo mercado, isso quando já não foram precificadas. Segundo porque não tenho a mínima condição de interpretar estas informações, logo a probabilidade de fazer alguma besteira é maior. Terceiro porque a atividade de acompanhar notícias costuma abalar a paz e o controle emocional que tanto prezo na minha estratégia. Quarto que se eu decidir mexer na minha carteira cada vez que houver uma mudança, ela ficará girando de forma que prejudicará seu desempenho. Quinto que dentro do conjunto de pessoas ricas que conheço, englobando desde as lendas do mercado até investidores que conheci pessoalmente, os que ficaram ricos operando notícias são percentualmente pouco relevantes neste conjunto. Sexto porque apesar de todas estas crises e intempéries econômicas, no longo prazo o mercado costuma subir, conforme relatei em uma postagem que fiz no meu blog. Dado o que falei, não vejo grandes motivos para eu realizar previsões, pois são extremamente difíceis de serem realizadas, muitas vezes com pouco retorno. Recomendo aos meus colegas que não tem conhecimento sobre Economia a aceitarem este fato. Vestir a carapuça de pequeno investidor, focando na saúde das empresas, deixando as notícias em segundo plano.

8) El Rei: No seu ótimo post sobre sua estratégia (confira aqui), você não deu maiores detalhes sobre os critérios de saída das empresas. Nos comentários, você falou um pouco disso, sendo que um dos critérios é a venda no caso de subida “insana” de preços. Você já passou por essa situação? Você tem empresas como Cielo, com valorização de 50%, e, mesmo assim, não a vendeu. Você pode especificar o que considera uma alta tão grande a ponto de ter que realizar lucro e arcar com um enorme imposto de renda?

A.D.P: Interessante esta pergunta, Troll. E ainda bem que citou a CIEL3. Tive a oportunidade de comprar suas ações em seu fundo histórico, no primeiro trimestre de 2011. Desde então ela subiu 50% em 2011, outros 50% em 2012 e vem subindo 20% em 2013. Foi a primeira empresa multiplicadora de minha carteira. Na minha tabela não consta valorização de mais de 100% porque realizei alguns trades, o que elevou artificialmente seu preço médio.
No meu critério, quando falo em venda a preços insanos de alta, estou me referindo àqueles momentos em que o mercado está eufórico. Nestes momentos é possível achar empresas com P/L de 50, por exemplo. Mesmo que uma empresa seja boa, podemos deduzir que há algo errado com este patamar, indicando que a possibilidade de uma correção é grande. Neste momento, uma transferência de parte dos recursos para a renda fixa pode ser uma boa ideia.

A CIEL3 possui um P/L alto e P/VP alto. Subiu intensamente nos últimos anos. Mas só por causa disso está a preço insano? A empresa está entregando resultados, com margens ridiculamente altas, dividendos bons e lucros constantes. Ainda não está insano. É o tipo de empresa que consigo comprar mesmo estando em topo histórico.

Falando em topo histórico, isso é outra coisa que vale a pena ser abordada. Já fui investidor de deixar de comprar uma ação só porque está em topo histórico, ou vender uma ação porque ela chegou a este nível. Ou o contrário. Ver uma ação em fundo histórico e achá-la atraente. Porém, isto não é garantia de nada. Nada que tenha subido muito não pode subir ainda mais ou nada que tenha caído muito não possa cair ainda mais. Olhar apenas o preço, pelo menos na minha estratégia atual, nada tem a ver com a definição de uma ação estar cara ou barata. Ao vender uma ação, o investidor poderá estar entregando ao mercado uma potencial vencedora. BR Foods, CCR, Duratex, Grendene, Klabin, Natura, Randon, Sabesp, Souza Cruz, Tractebel, dentre muitas outras, são ações que decuplicaram de 2003 para cá. Os investidores dessas empresas tiveram diversas oportunidades de vender estas vencedoras durante este tempo. Muitas também preservaram alguns múltiplos fundamentalistas, como por exemplo o P/L, bastante esticados durante este tempo. Vender apenas porque subiu muito ou porque o P/L está esticado pode ser uma estratégia perdedora ou pouco rentável. Um investidor que comprasse no início de uma decuplicação e vendesse só porque subiu 50% e porque está em topo histórico estaria abrindo mão de outros magníficos 570%. O mesmo vale comprar uma ação apenas porque sua cotação caiu muito ou porque está em fundo histórico. Diversas empresas atingem o fundo histórico, para depois atingir outro, e mais outro, e mais outro, para depois permanecer neste buraco. É preciso analisar o conjunto dos múltiplos e expectativas da empresa.

O que se tem notado é que o mercado estica os múltiplos de empresas com boas expectativas e reprime os múltiplos de empresas com más expectativas. Entretanto, muitas vezes o mercado exagera ao esticar algumas ações, havendo um descompasso entre suas expectativas e seu preço. Confesso que não deve ser anda fácil vender uma ação lucrativa só porque subiu exageradamente, mas uma subida de 50%, na minha opinião, não é exagero, contanto que haja um acompanhamento dos fundamentos e perspectivas da empresa.

9) El Rei: Atualmente, você está se dedicando a um concurso público top of mind, correto? Que dica você dá para quem deseja começar a estudar para concursos?

A.D.P: Para quem nunca estudou para concurso ou nunca passou, a primeira dica que quero deixar aqui é que vá subindo a escada aos poucos. Quando me refiro à escada, me refiro aos degraus do funcionalismo público. Mesmo que a pessoa tenha ensino superior, faça um concurso de ensino médio, que pague entre 2k a 4k reais iniciais. Depois da congratulação, parta para os de ensino superior TOP.

Não se intimide com as relações candidato/vaga. Vemos por aí concursos com relação candidato/vaga de 300, 500 ou até mais do que 1.000. Muitas pessoas com bom potencial de estudo desistem por causa disso. Isso é tudo besteira. A maioria das pessoas que está prestando concurso está despreparada. Muitos estudaram apenas 2 ou 3 meses. Alguns são advogados que acham que vão se dar bem apenas porque cai direito. Muitas só se inscreveram para ver se passam na sorte. Muitos apenas realizaram um cursinho preparatório mas deixam de estudar além dele. Não tenho estudos ou estatísticas, mas chuto que pelo menos 90% dos candidatos são despreparados. É um ou outro que se salva.

Tempo é fundamental. Não deixe para estudar apenas quando sair o edital. Estude antes. Quando digo antes, leia-se anos de antecedência. A não ser, claro, que você seja superdotado.

Foco é fundamental. Não adianta sair estudando um monte de matérias se você não tem um concurso específico em mente. Foque um concurso, veja as disciplinas que serão cobradas e estude para ele.

Analisar a banca é fundamental. Considero que estudar a banca que organizará o concurso é a parte mais importante. Você não estuda apenas a matéria, estuda o estilo da banca. Muitas bancas cobram mais sobre um assunto. Algumas bancas cobram o texto puro da lei enquanto outras cobram mais interpretação. Cada banca organizadora tem o seu estilo. Estudar o estilo da banca te deixará mais preparado.

Estudar o conteúdo programático. Estude tudo. Sabe aquele partezinha de matemática financeira que você não estudou porque não achou material de estudo ou porque achou muito complicado entender? Das 10 questões de matemática financeira, 6 serão exatamente sobre isto que você não estudou. Estude tudo, pois a Lei de Murphy funciona muito bem para aqueles que deixaram de estudar algum conteúdo da prova.

Os que passam no concurso não são aqueles que mais acertam, mas sim aqueles que menos erram. Estude para o concurso na tentativa de gabaritá-lo. Não gaste seu tempo a toa. Não existe isso de "se não passar neste concurso passo em outro". Não desperdice tempo. Estude para passar de primeira!!!

Há muitas outras dicas, mas isso seria um assunto para uma postagem no meu blog. Por enquanto vou deixar estas. Espero que seu público goste, Troll.

10) El Rei: Para finalizar, deixe uma mensagem para seus leitores, sejam eles jovem mancebos ou adultos, sobre qualquer coisa que vier à sua cabeça.

A.D.P: O que tenho observado no meu dia a dia e na internet são pessoas que gastam muita energia em coisas desnecessárias. Picuinhas, briguinhas, um querendo ser um melhor do que o outro, deboches, xingamentos e muitas outras coisas que em nada acrescentariam na vida da pessoa. Muita gente esquentando a cabeça com coisas que em nada mudariam suas vidas. Pelo contrário. Geram rancor, descontentamento e inimizades. A mensagem que quero deixar aqui é que as pessoas analisem realmente se vale a pena tomar certas atitudes. Avaliem realmente se a atitude que está sendo tomada nos tornam pessoas melhores e com maior aprendizagem na bagagem. Não somos perfeitos, mas podemos tentar conviver pacificamente nos ajudando ou ajudando outras pessoas. Procurem agir de maneira correta no seu dia a dia.

No campo das finanças e dos investimentos, procurem sempre o autoaperfeiçoamento. Mantenham a disciplina e a constância de aportar mês a mês e comprar ações de boas empresas. O começo da jornada é a parte mais difícil, pois o investidor se depara com uma carteira pequena, que pinga apenas algumas dezenas de reais de dividendos. Mas conforme o tempo vai passando, o investidor vai amadurecendo e sua carteira criará corpo, motivando-o. Mantenham a disciplina e os aportes. E desconfie das pessoas que afirmam ter descoberto a fórmula mágica do completo sucesso na bolsa. Se você afirma que possui esta fórmula, provavelmente você está errado.

11) El Rei: Quero agradecê-lo por aceitar ser entrevistado pelo Investidor Troll, El Rei das Polêmicas. Tenho profundo respeito pelo trabalho que você faz no seu blog, ao trazer a lume informação de qualidade escrita de forma simples, para que qualquer pessoa possa entender e apreciar.

A.D.P: O prazer foi todo meu. Para quem tiver maior curiosidade, fui entrevistado também há um tempo no fórum da Infomoney. Vou deixar o link abaixo:

http://forum.infomoney.com.br/viewtopic.php?p=1696691#1696691

Desejo maiores sucessos a você e a todos os seus leitores!